Em entrevista inédita para a Revista MAISCASA a dupla se revela. Honram as origens através do desenho e da inventividade na combinação dos materiais. Exclusivamente pra vocês: André Gurgel e Felipe Bezerra.
Qual é o principal desafio da dupla?
Conciliar design, técnica e produção com aceitação de mercado é um dos principais desafios que encaramos desde o início (2012). Nossas peças têm uma pegada de humor e irreverência, essa é a essência que sempre passamos. Muitas vezes isso pode tornar a produção um pouco mais complexa. O grande desafio é conciliar todos os aspectos e ainda tornar a produção com o menor custo possível, atingindo uma parcela bem mais significativa do mercado. Essa união de fatores, agregado a um time de parceiros forte, nos permitiu crescer nessa área.
Como vocês se sentem com tanto sucesso? Podem falar sobre trajetória?
Trabalhamos com a premissa de nos satisfazer criativamente e expressar a nossa essência irreverente e nordestina através dos nossos produtos. Isso gera uma corrente de identificação com o nosso propósito como designers e empreendedores q somos, afinal de contas estamos fora do eixo Sul- sudeste e isso por si só já é uma ruptura no “status quo”. O mais importante é sermos, mesmo que de maneira simplificada, personagens dessa mudança. O sucesso vem da identificação do público com nossa história e ficamos muito felizes em saber desse reconhecimento. Nós nos conhecemos através da relação entre as nossas empresas (André com o desenvolvimento de perspectivas eletrônicas e Felipe como arquiteto, com projetos). Em certo momento houve uma identificação de identidade entre nossos desenhos e percebemos que poderíamos desenvolver um trabalho em parceria. Como somos fãs de Gonzagão, e sendo ele uma figura marcante da nossa cultura, fizemos uma homenagem através de uma de suas músicas, Mula Preta.
Os desenhos de ambos se confundem muitas vezes. Um começa e outro termina e vice-versa. O normal é que a essência de cada projeto seja concebida por um de nós, a partir daí com o aval dos dois e realizando as interferências consensuais necessárias continuamos todo o processo. O processo de criação está intrinsecamente ligado com o processo de observação, nenhum designer faz um projeto “do nada”, saber observar é crucial para absorção de idéias. Depois do insight e das idéias iniciais serem rabiscadas, o passo seguinte é refinar as formas e começar a modelagem tridimensional, para uma visualização do produto em vários ângulos e com diferentes materiais. É importante sempre respeitar a ergonomia e pensar na viabilidade técnica e construtiva do projeto.
Genuíno, autêntico. Puramente brasileiro. Quais os fatores que interferem no trabalho de vocês?
O nosso maior objetivo é transmitir através do nosso traço a irreverência e espontaneidade da cultura nordestina, essa é a nossa contribuição e talvez a nossa maior mensagem. Então podemos dizer que assumimos integralmente esses predicados. Um ponto importante, isso nos leva a ter um vasto leque de inspirações. O diferencial está em como transformamos essas inspirações em produtos. Muitas vezes as coisas acontecem de maneira natural e em alguns minutos o conceito do produto está quase todo formado.
Outras vezes começamos de forma que achamos interessantes e ao longo do tempo evoluímos a ideia a aplicamos tecnologias para industrializar. Seria difícil destacar a principal fonte de inspiração, vão de uma bola de basquete a uma fruta tropical.
O design brasileiro é uma das faces que o Brasil ama mostrar; e vem crescendo de forma exponencial o desejo mundial pela brasilidade. Já vi Mole em casas no Japão, Suécia e Chile. Qual é a ressonância dessa posição que o design nacional está ocupando neste momento?
O mundo está cada vez mais interconectado. As nuances culturais e apelos estéticos e de design que antes eram restritos as cercas geográficas agora estão na palma da mão, através das mais diversas redes sociais. Essa abertura do mundo para o intercambio vem despertando o desejo de pessoas de todo lugar em descobrir o que é feito fora da sua região, ou país. Isso abre portas para exposições internacionais de artistas e designers brasileiros, publicações em revistas importantes e o acesso do grande público a todo esse conteúdo. As plataformas de e-commerce estão cada vez mais especializadas em design e conseguem disseminar essa mensagem muito bem. Alguns personagens como você citou, Sergio Rodrigues, e adiciono o nosso colega Jader Almeida, também possuem um papel importante em desbravar corajosamente esse mercado. Hoje conseguimos encontrar peças deles e de outros em muitas lojas na Europa, EUA e Ásia.
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